Sobre O Amor - Part IV

O tipo de amor pessoal que sentimos desde o início das nossas vidas é o amor entre pais e filhos. Ao crescermos vemos a presença dos nossos pais como algo permanente, pois eles aparentam ser um elemento fixo no mundo tal como a terra, a água, o fogo e o ar. Sentimos que temos direito ao amor dos nossos pais. Dada a propensão à condescendência, na sociedade tailandesa enfatiza-se grandemente a gratidão, encorajando as pessoas a lembrarem-se o quanto devem aos seus pais e a sentirem a alegria de retribuir a bondade dos mesmos. Assim, quando por fim os nossos pais nos deixarem, não necessitamos de manchar a nossa tristeza com remorsos. As nossas memórias serão repletas de orgulho, por termos cumprido os nossos deveres filiais.

É pouco provável que existam pais que possam afirmar que amar os seus filhos só lhes trouxe felicidade. Mais provável é que o sofrimento que surge em consequência desse amor paternal seja compensado pela alegria de serem pais. Sempre que os filhos sofrem - seja por motivo de doença física ou emocionalmente, devido a algum desapontamento - pais que amam, sofrem muitas vezes ainda mais que os próprios filhos. Os pais conseguem suportar o seu próprio sofrimento mas suportar o do seus filhos é quase impossível. No que toca à educação das crianças, a maioria dos pais está disposta a sacrificar e a suportar anos de exaustivas dificuldades físicas e emocionais para que os seus filhos possam vir a ser capazes, ter sucesso e ser felizes.

Amor pelos nossos pais e pelos nossos filhos é um apego natural que inclui uma sombra de sofrimento. Trata-se de um tipo de sofrimento que, para a maioria, é aceite de bom grado, mas que ainda assim deveríamos interessar-nos por saber se existe algum aspecto desse sofrimento do qual podemos abdicar sem que isso afete a nossa capacidade de sermos bons pais ou bons filhos.