Os ensinamentos do Buddha sugerem duas significantes desvantagens em relação ao amor mundano:
1. Aquele que ama, o amado e próprio amor, são todos por natureza impermanentes. As alterações e as mudanças que ocorrem, devido a causas e efeitos, significam que nada no mundo, incluindo o amor pessoal, é permanente ou capaz de oferecer um verdadeiro refúgio.
2. O amante, como ser não iluminado, alojará sempre no seu coração emoções negativas (conhecidas na linguagem budista como obstruções ou kilesas) que eventualmente tornarão o amor em algo insatisfatório e poderão, a qualquer momento, trazer problemas à relação amorosa. Devido à sua natureza, já se torna difícil para o amor mundano ser algo duradouro, e nós tornamo-lo pior com a nossa ignorância e desejos insensatos.
Aqueles que possuem o que o Buddha chama de “visão correta” praticam de forma a compreender o amor segundo as Quatro Nobres Verdades. Praticam de forma a reconhecer as deficiências inerentes ao amor, tentando assim encontrar o significado e o valor corretos do amor nas suas vidas. Eles tentam abandonar as impurezas que, apesar da presença do amor, continuam a causar sofrimento no coração. O seu objetivo é evitar ou minimizar o sofrimento que provém do amor, e alcançar e oferecer a maior felicidade possível. Por fim, inspirados pela consciência da beleza de um amor que é incondicional, eles usam os ensinamentos do Buddha no treino das suas ações, da sua fala e das suas mentes para que as mesmas conduzam o amor, tanto quanto possível, em direcção a um amor incondicional.
Talvez certos leitores não vejam qualquer benefício neste tipo de prática e poderão até questionar, porque nos preocupamos em mexer com o amor quando ele está bem da forma como é. A isto eu responderia com uma questão: Será que está mesmo tudo bem ?
E se assim for o caso, por quanto tempo irá permanecer dessa forma ? Como é que se vai saber ? O Buddha mostrou-nos que se algo for autêntico, passará por qualquer teste. Somente as coisas falsas se desmoronam ao serem examinadas. Assim sendo, se o nosso amor for genuíno não devemos ter medo de o testar. Se quisermos abandonar algo falso e alcançar a autenticidade, devemos aprender a examinar o nosso próprio coração. Esse exame tem de englobar todos os sentimentos, incluindo os mais pertinentes ao nosso coração, tal como o amor.
Como praticantes espirituais esforçamo-nos por compreender o amor. Quando examinamos o amor com uma mente neutra e imparcial, os apegos e outras impurezas que tenham surgido no nosso coração devido à nossa ignorância, e que eventualmente se aglomeraram com o amor, irão gradualmente dissolver-se. Começa-se assim a apreciar o sabor de um amor não tóxico e, por fim, no coração daquele que praticou corretamente, restará apenas um amor incondicional, límpido e cristalino que transborda naturalmente de uma mente feliz.