Ao tentarmos compreender o que é o amor, estas são as questões que podemos colocar a nós próprios: O que é o amor? Quais são as vantagens e desvantagens do amor? Como é que o amor surge? Como é que se mantém o amor? Como é que o amor se desfaz e termina? O que são as impurezas do amor? O que é que conserva e purifica o amor? Como nos devemos comportar em relação ao amor de forma a maximizar a felicidade e minimizar a dor?
O primeiro desafio ao responder a estas questões é a semântica da palavra. O significado da palavra “amor” é pouco preciso, porque o termo é usado para descrever muitos e diferentes tipos de apego. Às vezes dizemos que amamos algo quando o que na realidade queremos dizer é que gostamos muito disso, como por exemplo: amamos nadar, amamos marisco, amamos este ou aquele filme. Visto este tipo de amor não ser relevante para a minha discussão, não voltarei aqui a mencioná-lo.
Outro tipo de amor é a devoção ao intangível, a crenças ou ideais, amarmos o nosso país ou a nossa religião, por exemplo. O apego a determinado ideal pode ser tão intenso que o ser humano torna-se disposto a matar ou a morrer pelo mesmo. Este tipo de amor é valorizado porque dá um objetivo e significado às vidas e alivia, por algum tempo, a monotonia das preocupações insignificantes. Mas também nos rouba o discernimento e, por isso, necessitamos de refinar este tipo de amor com cautela e sabedoria para evitarmos ser vítimas ou joguetes de astutos manipuladores. Num conflito, se estivermos convencidos que estamos certos, de que somos bons e puros e que o outro lado é mau, errado e impuro, perderemos o nosso rumo. Aqueles que estão completamente convencidos de que estão certos já estão no caminho errado. Pensar em termos de nós contra os outros, brancos contra negros, o bem contra o mal, é como uma doença que tem criado incalculável sofrimento no mundo. O antídoto para este modo infantil de ver as coisas é a empatia, e esta não diminui, como por vezes se pensa, a nossa capacidade de resposta, mas torna-a sim mais inteligente. Demonizar os outros, ou simplesmente recusar garantir-lhes a sua própria humanidade, conduz a acções moderadas e cruéis, que eventualmente ripostarão contra os seus autores. Termo- -nos sempre em boa conta e julgarmo-nos sempre correctos é uma forma de intoxicação. Procurar compreender os outros e as diferentes situações conduz-nos a respostas mais justas e equilibradas. Quando alguém tenta convencer-nos a odiar ou a desprezar aqueles que têm pontos de vista diferentes dos nossos, essa pessoa não está a ser um bom amigo (kalyāṇamitta). Ela está a agir como um mau amigo (pāpamitta), alguém que nos leva por um mau caminho. Quando optamos por uma determinada filosofia ou modo particular de pensar, devemos certificar-nos de que a mesma está de acordo com os princípios do Dhamma. Por exemplo, será que isto nos parece tão razoável e justo, apenas quando a nossa mente está calma na meditação ou também quando se encontra agitada ?
Vale a pena investigar este segundo tipo de amor pois o mesmo tem implicações ao nível da paz e estabilidade social. Mas aqui pretendo aprofundar a análise do terceiro tipo de amor, que é o amor mais pessoal: amor pelos pais, filhos, netos, familiares, amigos e o amor matrimonial. E por fim, o quarto tipo de amor, que é o amor incondicional. A primeira observação que gostaria de fazer é que os três primeiros tipos de amor trazem sempre algum sofrimento às nossas vidas, pois é assim que o amor e o coração humano funcionam.
O amor mundano tem as suas limitações naturais, simplesmente por fazer parte do mundo. De certa forma é sempre deficiente. Estas são as más notícias. Mas a boa notícia é que existe um outro tipo de amor que é superior; o chamado amor incondicional (metta). Sendo incondicional expressa-se univer- salmente de forma imparcial e sem preconceitos para com todos os seres vivos. É um amor verdadeiramente puro. Quando o amor não tem limites, não causa sofrimento. Pelo contrário, o amor incondicional só nos traz felicidade do tipo mais satisfatório, porque se encontra no caminho para a libertação.