O Insight Nos Liberta

Todos temos insights. Sabemos que o objeto do nosso desejo não é tão valioso. Sabemos que não queremos ser capturados. Sabemos que não queremos gastar todo nosso dinheiro, tempo e energia nisso. Ainda assim, não somos capazes de nos livrar do desejo. E isso acontece por não sabermos como aplicar nosso insight.

É preciso parar um tempo para refletir profundamente sobre a nossa situação a fim de identificarmos o que desejamos. Depois, devemos identificar a isca. Qual é o perigo? Que sofrimento ele esconde? Precisamos enxergar todas as maneiras pelas quais correr atrás e desejar tais coisas nos fazem sofrer.

Qualquer desejo tem suas raízes em nosso desejo original e fundamental de sobreviver. No budismo, não falamos em pecado capital, falamos no medo e no desejo originais, que se manifestam no momento do nosso nascimento e no precário momento da nossa primeira e dolorosa respiração. Nossas mães não podem mais respirar por nós. Inalar é complicado. Primeiro, devemos expelir água dos nossos pulmões. Porém, se não conseguimos respirar sozinhos, acabamos morrendo. Mas conseguimos e nascemos. No momento do nascimento, surgem o nosso medo da morte e o desejo de sobreviver. Quando somos pequenos, esse medo se mantém vivo. Nós sabemos que, para sobrevivermos, devemos conseguir que alguém tome conta de nós. Ao nos sentirmos sem poder, tentamos descobrir todos os caminhos para conseguir proteção, cuidado e certa garantia da nossa sobrevivência.

Quando nos tornamos adultos, nosso medo e desejo originais continuam presentes. Temos medo de ficarmos sozinhos ou abandonados. Temos medo de envelhecer. Desejamos conexões e alguém que tome conta de nós. Se trabalhamos sem parar, é possível que isso seja em decorrência de nosso medo original de não conseguirmos sobreviver. E nosso próprio medo e desejo podem nascer do medo e do desejo original dos nossos ancestrais. Eles sofreram com a fome, as guerras, o exílio e com várias outras coisas, e, ao longo dos séculos, enfrentaram inúmeras dificuldades que ameaçaram sua sobrevivência.

Quando surgem o medo, a ânsia e o desejo, devemos ser capazes de reconhecer tudo isso com atençāo plena e sorrir com compaixão. “Oi, medo. Oi, desejo. Oi, criança. Oi, antepassados”. Atentos à nossa respiração, no porto seguro do momento atual, transmitimos uma energia de estabilidade, compaixão e falta de medo à nossa criança interior e aos nossos antepassados.

A atençāo plena só nos ajuda a reduzir o estresse e a tensão quando nos oferece insights.

A meditação não é um local de refúgio temporário que nos ajuda a parar de sofrer por um tempo. Ela é muito mais do que isso. Sua prática espiritual tem o poder de transformar as raízes do seu sofrimento e a maneira como você vive seu cotidiano. É o insight que nos ajuda a acalmar nossa agitação, estresse e desejo. Acho que podemos começar a falar em “redução de estresse baseada no insight”.

“A arte de viver em paz e em liberdade no aqui e agora” por Thich Nhat Hanh