Nossa qualidade de vida e nossa verdadeira felicidade não dependem de condições ou provas externas. Não dependem de quanto dinheiro temos, de qual é o nosso trabalho e de como é a nossa casa. Em Plum Village, nenhum dos monges tem conta bancária, cartão de crédito ou salário, e ainda assim vivemos muito felizes. Pelos padrões de vida norte-americanos, não somos pessoas normais. Porém, somos muito felizes com nossa vida simples e com a chance que temos de ajudar aos demais e servir ao mundo.
A felicidade real depende da nossa capacidade de cultivar a compaixão e a compreensão e de nutrir e curar a nós mesmos e aos nossos entes queridos.
Todos precisamos amar e ser amados. Em nossos relacionamentos, podemos buscar alguém que simbolize o que é bom, verdadeiro e bonito, e assim preenchermos nossa sensação de vazio. A pessoa pela qual nos apaixonamos logo se torna nosso objeto de desejo. Mas desejo sexual não é a mesma coisa que amor, e as relações sexuais motivadas pelo desejo nunca dissiparão a sensação de solidão, apenas criarão mais dor e isolamento. Se você deseja curar sua solidão, em primeiro lugar deve aprender a curar a si mesmo, estar presente para si mesmo e cultivar seu próprio jardim interior de amor, aceitação e compreensão.
Quando conseguir cultivar o amor e a compreensão em si mesmo, você terá algo a oferecer ao outro. Porém, se ainda não nos amamos e nos compreendemos, como culpar os demais por não nos amarem ou não nos entenderem? A liberdade, a paz, o amor e a compreensão não são coisas que podemos obter externamente. São coisas que já estão disponíveis em nós. Nossa prática é fazer o possível para trazer à tona o amor, a compreensão, a liberdade e a falta de medo, observando-nos profundamente e nos escutando. Em vez de correr atrás dos objetos de nosso desejo ou de transformar nossos seres amados em objetos de desejo, deveríamos gastar nosso tempo cultivando o amor verdadeiro e a compreensão em nosso coração.
Um amigo verdadeiro é alguém que oferece paz e felicidade. Se você é um amigo verdadeiro de si mesmo, é capaz de oferecer a si mesmo a verdadeira paz e felicidade que busca.
Certa vez, me pediram que escrevesse uma carta de encorajamento a um prisioneiro chamado Daniel, que estava no corredor da morte em Jackson, na Geórgia, Estados Unidos. Ele tinha dezenove anos quando cometeu o crime, e há treze (toda sua vida adulta) vivia atrás das grades. Eles me perguntaram se eu poderia oferecer algumas palavras de conforto a Daniel, já que a data da sua execução se aproximava. E eu lhe enviei um bilhete: “Muita gente ao seu redor cultiva a raiva, o ódio e o desespero, e isso impede que entrem em contato com o ar fresco, o céu azul ou o cheiro de uma rosa. Essa gente vive em uma espécie de prisão. Porém, se você praticar a compaixão, se conseguir enxergar o sofrimento das pessoas ao seu redor, se tentar fazer algo para ajudá-las a cada dia, você será livre. Um dia com compaixão vale mais do que cem dias sem ela”. O número de dias que nos resta viver não é tão importante. O importante é como os vivemos.
“A arte de viver em paz e em liberdade no aqui e agora” por Thich Nhat Hanh