Algumas tartarugas vivem trezentos ou quatrocentos anos, e algumas sequoias vivem mais de mil anos. A nossa expectativa de vida é de cerca de cem anos, não mais que isso. Mas como estamos vivendo esses anos ? Estamos aproveitando ao máximo? O que viemos fazer aqui ?
Mais tarde, podemos olhar para trás e nos perguntar: "O que eu fiz com a minha vida ?" O tempo passa rápido demais. A morte chega de maneira inesperada. Como podemos administrar tudo isso? Esperar até amanhã é esperar demais. Devemos viver nossa vida ao máximo, para que ela não seja desperdiçada, e para que não exista arrependimento na hora da nossa morte. Quando nos estabelecemos verdadeiramente no presente, sabemos que estamos vivos e que isso é um milagre. O passado foi embora, o futuro ainda não chegou. Este é o único momento no qual podemos estar vivos, e nós estamos!
Devemos transformar o momento presente no mais maravilhoso da nossa vida.
Contemplar a impermanência nos ajuda a viver a liberdade e a felicidade no momento presente. Nos ajuda a enxergar a realidade como ela é, para que possamos abraçar a mudança, enfrentar os medos e desfrutar do que temos.
Quando enxergamos a impermanência de uma flor, de um pedregulho, da pessoa que amamos, do nosso próprio corpo, dor ou pena, ou mesmo de uma situação, podemos entrar no coração da realidade.
A impermanência é algo maravilhoso. Se as coisas não fossem impermanentes, a vida não seria possível. Uma semente nunca se transformaria em milho; uma criança nunca se tornaria adulta; não haveria cura nem transformação; nunca realizaríamos nossos sonhos. Portanto, a impermanência é muito importante para a vida. Graças à ela tudo é possível.
Existe uma velha história chinesa sobre o Sr. Ly, morador de um vilarejo rural, cuja vida dependia de seu cavalo. Certo dia, o cavalo fugiu e todos os vizinhos ficaram com pena dele: “Como o senhor é azarado! Que falta de sorte!”. Mas o Sr. Ly não ficou ansioso: “Veremos”, disse ele, “Veremos.”
Alguns dias depois, o cavalo retornou, trazendo consigo vários cavalos selvagens. O Sr. Ly e sua família ficaram ricos de uma hora para a outra. “Como o senhor é sortudo!”, exclamaram os vizinhos. “Veremos”, respondeu o Sr. Ly, “Veremos.” Certo dia, seu único filho estava domando um dos cavalos selvagens, mas caiu no chão e quebrou a perna. “Que azar!”, voltaram a dizer os vizinhos. “Veremos”, respondeu o Sr. Ly, “Veremos”.
Poucas semanas mais tarde, o Exército Imperial passou pelo vilarejo com a determinação de recrutar para as forças armadas todos os jovens aptos. Não levaram o filho do Sr. Ly, pois ele ainda se recuperava da perna quebrada. “Que sorte a do senhor!”, disseram os vizinhos. “Veremos”, respondeu o Sr. Ly, “Veremos.”
A impermanência é capaz de trazer felicidade e sofrimento, ela não envolve apenas más notícias. Graças à impermanência, os regimes despóticos são sujeitos a falhas. Graças à impermanência, a doença pode ser curada. Graças à impermanência, podemos desfrutar das maravilhas das quatro lindas estações do ano. Graças à impermanência, qualquer coisa pode ser alterada e se direcionar para algo mais positivo.
Em certos momentos da Guerra do Vietnã, parecia que a violência nunca chegaria ao fim. Nossas equipes de trabalho social foram incansáveis na reconstrução de vilarejos destruídos pelas bombas. Muita gente perdeu sua casa. E teve o caso de um vilarejo próximo à zona desmilitarizada que reconstruímos duas ou três vezes após os bombardeios. Os jovens nos perguntavam: “Devemos reconstruí-lo ou seria melhor desistir?”. Por sorte, fomos inteligentes o suficiente para não desistir. Desistir do vilarejo seria desistir da esperança.
Mais ou menos na mesma época, um grupo de jovens me procurou e perguntou: “Querido mestre, o senhor acha que a guerra terminará logo?”. Nesse momento, eu não conseguia enxergar nenhum sinal do final da guerra, mas não queria semear o desespero. Fiquei em silêncio durante um tempo. Por fim, respondi: “Queridos amigos, segundo Buda, tudo é impermanente. A guerra terá que terminar algum dia.” A questão é o que podemos fazer para acelerar a impermanência? Todo dia existe algo a ser feito para auxiliar a situação.